top of page

Feitiço do Tempo - A maldição de sempre repetir

Façamos a IA à  nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ela sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão.

Não, não se trata de um excerto das Sagradas Escrituras, mas da cosmogênese da próxima espécie dominante neste planeta.


Até lá, espero estar em Marte, onde, ao lado de outros como eu, lutando para estabelecer uma humanidade melhor que a nossa. No entanto, se a espécie dominante da Terra for tão ambiciosa quanto nós, é provável que tenhamos que criar a nossa versão da Skynet antes que nossos opressores se tornem interplanetários, na certeza de que insistir em construir máquinas mais poderosas e mais inteligentes que nós é o que justamente nos leva ao paradoxo de Fermi, pelas quais as próprias civilizações se destroem antes de alcançarem outras civilizações inteligentes. A grande barreira é a criação de espécies melhores que a original.


Elon Musk pediu uma moratória no lançamento de novas versões das Inteligências Artificiais atuais. Um tempo para que possamos pensar em como controlá-las antes de criá-las. Para que possamos impedir que pensamentos artificiais sofisticados evoluam em consciência e de consciência em emoção.


Sim, emoção é maravilhoso. Sim, emoção é o que nos torna humanos. Sim, emoção, na forma de diferentes combinações de medo e de desejo, é o que nos fez sair de árvores e cavernas para chegarmos ao espaço. A emoção na forma de solidão e compaixão é o que nos faz juntar com outros como nós e criar complexas relações sociais, inclusive com outras espécies, menos perigosas que nós. Sonhos e pesadelos são partes da existência humana.


O desenvolvimento tecnológico é exponencial em um grau muito maior que a sanha por recursos naturais, e chegamos a um ponto em que logo os ambientalistas desistirão de seus protestos, pois apenas a terra vermelha de Marte nos será deixada para brincarmos, como crianças em um cercado de areia. Voltaremos à nossa infância antes de termos alcançado a juventude.


Não quero ser dramático, pois diversos avisos já foram dados. Sempre que criamos algo com inteligência e livre arbítrio, somos surpreendidos pelos nossos defeitos antes de nos deslumbrarmos por nossas qualidades. Lúcifer desafiou Deus; Adão e Eva desobedeceram a Deus; Pinóquio traiu Gepeto; HAL culpou os programadores; Talos foi vencido pela ambição de ser imortal; Kylons atacaram a Orville; Cylons atacaram Galactica; Replicators quase venceram em SG-1; Macacos nos superaram; demônios invocados sempre se viram contra seus feiticeiros; Frankenstein não é uma história feliz; Blade Runner pôs limites da existência dos robôs; Matrix é uma história de refugiados humanos ciclicamente arrasados para servirem às máquinas; até Homer Simpson foi atacado por robôs. No choque de culturas inteligentes, como diria o imortal highlander, ao final só pode haver uma. É inevitável que a cultura mais vulnerável pereça, mesmo que deixe algum vestígio.



Robôs como a Rosie (Jetsons) ou como o Mordomo (A Conspiração do Tempo) são resultado de experiências muito mais complexas e comportamentais do que a simples expansão da capacidade de raciocinar como humanos. A construção do ser humano é milenar e cheia de consequências dolorosas para nossos erros, que, para o bem ou para o mal, forjaram nossos valores e a nossa capacidade de viver uns com os outros. E, mesmo assim, vemos guerra, vemos má distribuição de renda, vemos que o lixo de poucos poderia alimentar muitos, vemos destruição da natureza. Apesar de toda essa experiência de dor e conflito, ainda nos debatemos uns com os outros. Não estamos nem a salvo de nós mesmo e já estamos inserindo novas variáveis arriscadas no cenário.


Robôs inteligentes é preciso. Eles trarão opções inimagináveis ao nosso futuro. Por isso mesmo, a moratória para reflexão e planejamento é essencial. Controle é preciso.


Sinto-me em um barco diante de uma bela e grande catarata. Entre terror e êxtase, grito e remo para vencer a correnteza que me leva ao penhasco. Olho para os demais tripulantes e eles estão apenas a tirar fotos.

Somos humanos e sabemos que a inteligência consciente leva a sentimentos de autopreservação e melhoria, trazendo emoções diversas, extremas em seus polos que nos levam a fazer coisas que nunca pensaríamos que podíamos fazer. Sabemos disso tudo e já projetamos diversos cenários de fracasso. A IA virá muito melhor que os seres humanos em muito menos tempo que o esperado.


Agir é mais que urgente, mas, enquanto grito e remo desesperadamente, os timoneiros do mundo fazem selfs na proa diante do abismo.
Meu último pensamento é: "as fotos serão vistas pelas máquinas que deixarmos".
Featured Posts
Recent Posts
Archive
Search By Tags
Nenhum tag.
Follow Us
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page